sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Crise e as oportunidades

A maior banalidade que se pode dizer é que estamos em crise e que os juros que pagamos sobre a nossa dívida externa estão mais altos. Outra banalidade é que os investimentos devem ser avaliados em função do seu retorno financeiro e social, quer haja crise ou não haja. Um mau investimento fica tão mais caro em crise como um bom investimento. Uma coisa é o custo do dinheiro investido, outra a rendibilidade daquilo em que se investe. Um mau investimento rende pouco, um bom, muito. Outra coisa, ainda, é se temos ou não orçamento para suportar o investimento enquanto ele não comece a remunerar os euros investidos. Aqui entra a iteração estratégica, de ajustamento do binómio (objectivos/capacidades e recursos). Efectivamente, há que avaliar o montante a investir, durante quanto tempo, o retorno que se prevê e o efeito multiplicador que ele tem sobre a economia e a sociedade.
Nós temos uma oportunidade a não desperdiçar: a dos espanhóis quererem fazer o TGV de Madrid a Badajoz e não de Madrid ao porto de Cadiz, por exemplo, como foi pensado. Passa pela cabeça de alguém criar a Portugal um isolamento maior do que a sua condição periférica já o sujeita? E perder a oportunidade de reduzir os custos de transação das nossas exportações e das ligações do exterior para Espanha, através do nosso país?
Já em relação às autoestradas, à Terceira Travessia, cuidado! Parece-me que os exemplos dados a pilotar processos decisórios levantam dúvidas. Os objectivos têm de ser evidentes! Explicam-se a si mesmos. O Governo deu-nos dúvidas sobre isto! O aeroporto na Ota não tinha explicação! A Terceira Travessia não tem explicação clara, pode ser adiada sem consequências, estendendo a linha da Alta Velocidade do Poceirão ao Pinhal Novo. Mais 14 Kms em terreno plano e de poucas expropriações. No Pinhal Novo, o passageiro apanha o metro que entra em Lisboa, com ligações em Sete Rios, Entre Campos, etc. à cidade inteira e à linha de Sintra, Cascais e Vila Franca. E se do Pinhal Novo quizer ir para o Sul só vê a sua vida facilitada. Um objectivo evidente é mobilizador; um polémico cria descrença. Se nos falta fazer tanta coisa em Portugal, por que razão insistimos em fazer o que nos divide em vez do que nos une?

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