sexta-feira, 31 de julho de 2009

Discurso da Ingovernabilidade II

Afinal, o Primeiro Ministro não convidou nem mandou convidar Joana Amaral Dias para nada. Françisco Louça deveria pedir desculpas públicas pelo facto, só pelo facto, já que pelo tom e o estilo a culpa não é dele. Dizem que é de inspiração trotskista mas não acho. É mais latino-americana.
Quanto a Paulo Campos... deveria conhecer melhor as suas amizades se é que ela existia neste caso. Até se percebe que tenha sido enganado mas... esteve mal e demorou muito tempo a por as coisas a limpo. Agora a Dra. Amaral Dias, cuidado! Quando falou com o emissário ficou a saber do que se tratava e disse que queria falar com o próprio. Convite à valsa? Tratava-se de "dar praça ao touro para a pega de caras"? Quando lhe falaram da primeira vez ou da segunda poderia ter logo dito que não aceitava. Mas foi pensar. Pensou e criou um dos mais belos discursos da ingovernabilidade que assola o país, com um líder político a insultar o Primeiro Ministro.

terça-feira, 28 de julho de 2009

O discurso da Ingovernabilidada (I)

A tensão política entre alguns lideres partidários envereda por narrativas perfeitamente desconectadas de qualquer esforço para se oferecer a compreensão da realidade dos factos. Se um afirma e o outro desmente, não é simplesmente a palavra de um contra o outro até que se apure a verdade dos factos. Surge de imediato uma, aliás, duas campanhas a defender cada um dos aspectos da contradição. Campanhas que não cuidam de saber se há mentira, mas quem interessa que minta.

E fala-se, fala-se sem se dizer quem pode esclarecer a verdade. Embora, quem saiba da verdade a possa esconder.

Exemplos eloquentes deste discurso político que nos assola será o caso do Procurador Lopes da Mota. Ao que parece, numa conversa de amigos… dá opiniões que "pressionam" alegadamente quem ele não tem o menor meio ou poder de pressionar – os colegas da procuradoria. Mas os bons cidadãos e maus colegas dizem que ele quis pressioná-los. Como? E se fosse possível eles deixavam?

Agora, outro caso, o de Joana Amaral Dias. Diga quem a convidou! E como. "Quem a quis comprar com tachos"? Diga quem julgou que ela se vendia! Reproduza a conversa! Se não no fizer vamos assistir a mais um discurso que nos vai atolando no descrédito da nossa vida política até criar um ambiente de ingovernabilidade do país.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Resiliência dos portugueses

Na Física, resiliência é uma relação estabelecida entre resistência e flexibilidade. Belo conceito que a Física emprestou recentemente às Ciências Sociais e que traduz a necessidade de equação e compatibilização de realidades distintas, mesmo opostas, logo contraditórias mas cujo peso na construção do futuro social lembra o que tem nas obras de engenharia.

As manifestações de resiliência são cada vez mais expressivas e frequentes na nossa sociedade. A título de exemplo:
- É o caso de se procurarem conciliar objectivos de segurança com a não beliscadura das liberdades dos cidadãos -- situação que ganhou acuidade após o 11 de Setembro;
- Como as decisões de alavancagem da actividade económica do nosso país, com injecção de capital no sistema financeiro e investimentos públicos, por um lado e de manutenção do equilíbrio orçamental e de redução do défice externo, por outro, ambas as medidas justificadas e dificultadas pela actual crise económica e financeira.
- Ou as preocupações de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade de investigação para que a Justiça fique mais célere e os crimes não fiquem impunes;
- O equilíbrio entre a necessidade democrática da informação dos cidadãos e, por exemplo, a devassa da vida privada de figuras públicas ou de julgamentos mediáticos e na praça pública;
- Ou a prestação social do Estado ao cidadão versus o aumento de impostos (excluindo a incidência do crescimento económico nestas realidades);
- Etc., etc. etc.

De certo modo, a flexibilização, no que ela contém de concertação, diálogo e que era, tradicionalmente, invocada pelas forças políticas de esquerda deixou de o ser quando ela contempla abertura a situações concretas, como, quando os aspectos competitivos da actividade obrigam a limitações de estatutos remuneratórios dos trabalhadores, salvo raras excepções, como é o caso da Auto-europa, na visão de esquerda de António Chora, que tem sabido equacionar as duas realidades, atingindo o que se pode chamar um alto “nível de resiliência”.

Já a resistência, configurando rigidez negocial ou de princípios, imposição de normas e comportamentos e garantindo as funções do Estado, em especial a segurança de pessoas e bens que, tradicionalmente/convencionalmente era apanágio das forças de direita são, hoje, consensuais, quer para a esquerda quer para a direita. Só se notam diferenças casuísticas (despenalização do aborto, eutanásia, etc.) e não me parece possível estabelecer doutrina diferenciadora no espectro político, pois, toda a gente diz defender a segurança e a Democracia, embora se saiba que há diferentes maneiras de defender a mesma coisa…

O debate político parece, assim, estar a deslocar-se das categorias “carimbadas” ideologicamente para um pragmatismo político de resolução de problemas que a vida social levanta. Passando esta resolução muitas vezes pela conciliação e criação de novas vias (umas problemáticas, outras solucionáticas…, passe o neologismo), parece que se pode começar a definir a qualidade das soluções encontradas pelo nível de resiliência conseguido. Ou não? A resiliência substitui a ideologia ou a ideologia passou a definir-se pelo patamar de resiliência? Ou seja, o nível em que é atingida a conciliação das realidades sociais que conflituam.

Resiliência dos portugueses

Resiliência dos portugueses

Na Física, resiliência é uma relação estabelecida entre resistência e flexibilidade. Belo conceito que a Física emprestou recentemente às Ciências Sociais e que traduz a necessidade de equação e compatibilização de realidades distintas, mesmo opostas, logo contraditórias mas cujo peso na construção do futuro social lembra o que tem nas obras de engenharia.

As manifestações de resiliência são cada vez mais expressivas e frequentes na nossa sociedade. A título de exemplo:
- É o caso de se procurarem conciliar objectivos de segurança com a não beliscadura das liberdades dos cidadãos -- situação que ganhou acuidade após o 11 de Setembro;
- Como as decisões de alavancagem da actividade económica do nosso país, com injecção de capital no sistema financeiro e investimentos públicos, por um lado e de manutenção do equilíbrio orçamental e de redução do défice externo, por outro, ambas as medidas justificadas e dificultadas pela actual crise económica e financeira.
- Ou as preocupações de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade de investigação para que a Justiça fique mais célere e os crimes não fiquem impunes;
- O equilíbrio entre a necessidade democrática da informação dos cidadãos e, por exemplo, a devassa da vida privada de figuras públicas ou de julgamentos mediáticos e na praça pública;
- Ou a prestação social do Estado ao cidadão versus o aumento de impostos (excluindo a incidência do crescimento económico nestas realidades);
- Etc., etc. etc.

De certo modo, a flexibilização, no que ela contém de concertação, diálogo e que era, tradicionalmente, invocada pelas forças políticas de esquerda deixou de o ser quando ela contempla abertura a situações concretas, como, quando os aspectos competitivos da actividade obrigam a limitações de estatutos remuneratórios dos trabalhadores, salvo raras excepções, como é o caso da Auto-europa, na visão de esquerda de António Chora, que tem sabido equacionar as duas realidades, atingindo o que se pode chamar um alto “nível de resiliência”.

Já a resistência, configurando rigidez negocial ou de princípios, imposição de normas e comportamentos e garantindo as funções do Estado, em especial a segurança de pessoas e bens que, tradicionalmente/convencionalmente era apanágio das forças de direita são, hoje, consensuais, quer para a esquerda quer para a direita. Só se notam diferenças casuísticas (despenalização do aborto, eutanásia, etc.) e não me parece possível estabelecer doutrina diferenciadora no espectro político, pois, toda a gente diz defender a segurança e a Democracia, embora se saiba que há diferentes maneiras de defender a mesma coisa…

O debate político parece, assim, estar a deslocar-se das categorias “carimbadas” ideologicamente para um pragmatismo político de resolução de problemas que a vida social levanta. Passando esta resolução muitas vezes pela conciliação e criação de novas vias (umas problemáticas, outras solucionáticas…, passe o neologismo), parece que se pode começar a definir a qualidade das soluções encontradas pelo nível de resiliência conseguido. Ou não? A resiliência substitui a ideologia ou a ideologia passou a definir-se pelo patamar de resiliência? Ou seja, o nível em que é atingida a conciliação das realidades sociais que conflituam.