terça-feira, 29 de março de 2011

Parabéns à Crise...

As Agências de Rating olham para Portugal de maneira diferente da que olharam para a Grécia e para a Irlanda, quando foram assinados os programas de auxílio financeiro do FMI. A Grécia era encarada como um país sem clareza nas suas contas, com dificuldades que lhe advinham da adesão despreparada ao Euro. A Irlanda era vista como uma vítima sem poder de reacção a uma bolha imobiliária enorme que contaminou o sistema bancário. Portugal, hoje, é visto de maneira diferente: não apresenta competitividade e o outlook de crescimento económico é o mais baixo da União. Resultado, as dúvidas sobre o pagamento das nossas dívidas crescem, os juros sobem, as dúvidas aumentam porque os juros sobem e estes sobem porque aquelas aumentam. Saída: Crise política!... Quem quisesse enterrar o país não encontrava melhor ideia. Parabéns PSD, parabéns PR... parabéns aos demais que acham que antecipar eleições vai ajudar.

sábado, 26 de março de 2011

Mereciamos melhor sorte!

O PSD votou contra o PEC4 na Assembleia. Passos Coelho, um dia depois, na reunião do Partido Popular Europeu, em Bruxelas, disse que se comprometeria com os objectivos daquele programa de regularização das contas públicas. O PSD votou contra a avaliação de professores mas diz que é a favor da avaliação. Os sindicatos tinham aprovado o sistema de avaliação mas apoiam a sua reprovação opela Assembleia da República.
Ontem, na entrevista à SIC, P. Coelho disse que o FMI não entraria em Portugal por sua vontade. Um minuto depois, dizia que a Grécia e a Irlanda pediram ajuda ao FNI e estão a pagar juros menores do que paga Portugal. Duas tiradas que me levam a pensar que P. C. é pior do que Manuela Ferreira Leite pensava, que o excluiu da lista de deputados do seu partido. Contradição à parte, embora cometido num espaço de 60 segundos seja grave, tem má informação. O capital emprestado pelo Fundo paga menos juro, mas o restante, que é muito mais, quer no caso da Grécia quer no da Irlanda, pagam muito mais do que opagavam e mais do que nós estamos a pagar. Mas se está convencido do contrário então porque é contra a entrada do FMI?
Portugal merecia uma melhor hipótese para Primeiro Ministro.
P'ra isto não valia a pena mudar de governo...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Manter "A fisionomia da frente", precisa-se!

A fórmula que tenho usado para situar o país no campo das dificuldades que o afectam é: Semi-presidencialismo dá semiparlamentarismo e estas duas características constitucionais dão semigovernismo quando ele não tem maioria parlamentar. Foi o que se viu desde as últimas eleições. Governava-se a meio vapor. Semana a semana havia um boato a dizer que o governo ia ter uma moção de censura, que ora era elogiado ora criticado, enfraquecido pelas circunstâncias políticas, económicas, mediáticas, pelas Agências de rating, etc. Os dados mais favoráveis eram afogados de imediato pelos opositores, alastrando a desconfiança e a descrença. Entretanto os juros iam subindo e, neste ano, a concentração de dívida a amortizar é estupefaciente (44 mil milhões de euros). Realmente apenas o Primeiro Ministro mantinha a "fisionomia da frente", ou seja, não deixava que o "inimigo" visse, ou se apercebesse, das fragilidades internas do governo, da economia, do país, quer cá dentyro quer quando ia lá fora.
Agora venha um governo de maioria, é o que desejo.

terça-feira, 22 de março de 2011

Esta crise política é areia de mais para a caminheta de Cavaco

Cavaco Silva disse hoje, na TV, que não tinha espaço de manobra para intervir no curso previsível da crise que está a conduzir a eleições antecipadas. Cavaco confessa que perdeu a liberdade de acção (ou de decisão, como dizem os militares). Esta é a última coisa que um comandante quer perder: a liberdade de conduzir os acontecimentos. Atribui a sua incapacidade à rapidez do evoluir da situação. Deveria acrescentar que a culpa é dele... Deveria ter agido mais rapidamente. A reação tem de ser à medida e no tempo da acção. Ou não?
PS.: remeto para a nota anterior.
Como diz um velho camarada meu, "Valha-me Santo António, Tenente-Coronel de Infantaria 19.

domingo, 20 de março de 2011

Depois dos bombardeamentos estrangeiros na Libia Kadafi pode ganhar mais apoiantes

Estamos perante uma guera civil na Líbia. De um lado uma parcela do povo adeptos do ditador Kadafi, há 40 anos no poder; do outro o povo que o contesta e luta por uma democracia. Os pró regime terão benefícios e sinecuras do poder rico de petróleo. Os outros não têm nada, nem um lider, têm um conselho governativo, constituído depois que os tumultos se iniciaram.
A intervenção internacional faz-se contra Kadafi. Não vale a pena desfarçá-lo, agora, que as acontrecimentos parecem mais indefinidos. Esta guerra, com armas de Kadafi e, a partir de ontem, com as mais sofisticadas armas usadas pelas forças da coligação internacional ignora a essência, ou as razões da guerra que eclodiu na Líbia. Esta é uma guerra civil que vai continuar ou parar para depois eclodir de novo. E se a comunidade internacional pretendia intervir, para evitar sacrifícios humanos, deveria tê-lo feito há mais tempo e eliminando um dos contendores, o que é responsável pela guerra, pela ditadura que exerce, e pela loucura de matar a sua população indefesa. As meias tintas da decisão internacional pode prejudicar e enviesar o curso mais conveniente dos acontecimentos. Dizem os telejornais que os EEUU declararam não querer matar o Kadafi. Então as baixas colaterais só servem para explicar as baixas de civis anónimos?... Será uma pergunta cínica mas a eliminação ou a erradicação de Kadafi é o passo decisivo ns contenda. Ou há outra solução?

sábado, 19 de março de 2011

Cavaco omisso perante a crise

Só a grande embrulhada em que o Governo (Sócrates) se meteu permite esquecer que Cavaco, na recente campanha eleitoral que lhe deu a vitória, dizia que se tivesse que ir à 2ª. volta o país ia sofrer com isso porque os juros que os mercados nos cobram iam aumentar. Em todo o caso, cabe perguntar se, agora, estivermos 4 meses com um governo de gestão, o que nos acontece aos juros e à satisfação dos pagamentos que temos de efectual em Abril e em Junho? E cabe, certamente, concluir que, depois do seu discurso de posse, ele passou a ver as coisas de outro modo ou, então, vê as coisas consoante estão os seus interesses e ambições em jogo. E não se empenhará em maiores esforços para evitar a crise política que, evidentemente, é o que menos interessaria ao país.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Foi um grande erro falar com a UE sem cobertura interna

Só uma grande pressão governativa pode explicar que Sócrates tenha levado à União Europeia, umas ideias de PEC 4 que não estavam vacinadas pela correlação de forças políticas no seu país. O não ter comunicado ao Presidente da República foi outro erro. Parece uma resposta tão desadequada como foi o discurso deste na tomada de posse. E feita depois de o PR ter sido condenado por muitas opiniões independentes. Ao fazer o mesmo...
Agora, resta-lhe ou o que já disse: a demissão caso seja reprovado o seu plano; ou não fazer novo PEC e ir governando mas, neste caso, a Sra. Merkel fica, para ela própria, a pensar que este país do Sul parece não pertencer à Europa e parece-se mais com os do "equador islâmico"... (com o respeito devido, claro).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Discurso de posse de Cavaco Silva

Este discurso de posse, como todos os outros dos anteriores Presidentes da República, independentemente do seu conteúdo, vai engrossar as lombadas dos livros onde eles são depositados pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. Vai apenas constituir retórica. Apenas retórica porque entre a palavra e a acção há o espaço imaterial da só palavra. A acção começa a concretizar-se depois. Ora, como o Presidente não age, temos palavras que valem o que valem. E valeriam muito. Seriam vitais se os nossos concidadãos sentissem que, como disse Cavaco Silva, a nossa economia, nos últimos 10 anos, por via do investimento e iniciativa nacionais (o RNB) cresceu a média de 0,1 por cento ao ano; e a nossa economia no conjunto do investimento e iniciativa económica estrangeira e nacional (o PIB) cresceu 0,7 por cento ao ano. Quer dizer que o nosso crescimento é devido ao investimento estrageiro: à Autoeuropa e outras, que contam para o PIB e não para o RNB. O crescimento da nossa economia, por parte dos nossos empresários é quase um aumento zero. Explicações: situação da administração pública e da Justiça; falta de dinamismo social e empresarial; carência de formação, tecnologia e competência; bloqueios legais e burocracia, desvantagem fiscal face à concorrêcia (muitas empresas portuguesas no estrageiro e mesmo em Portugal estão domiciliadas fiscalmente na Holanda e outros paraísos fiscais) etc.
Mas como em muitas destas coisas ninguém em Portugal tem poder de alterar a situação, só a União Europeia nos poderia valer. E só vai valer quando a necessidade tocar à porta de mais países. Já estivemos mais longe disso.
Dentro da retórica, continuar a dizer-se que se fala verdade sem referir a crise de 2008, que afecta todo o Mundo, Ó Dr. Cavaco, isso constitui a verdadeira omissão da parte mais importante da realidade.

terça-feira, 8 de março de 2011

A Revolução Árabe

Está a surpreender, para já. Pensava-se, ou muitos pensam, que a tutela divina e o temor a Deus eram considerados como factores de moderação social, de complacência para com os contrastes, em resumo, de pacificação das sociedades. E as revoltas populares que estão a acontecer nos países árabes do Norte de África apresentam-se sem ligações religiosas, numa sociedade que, como sabemos, está longe de ser caracterizada pelo laicismo.

Também se tem a ideia, ou alguns têm, que há povos que não “estão preparados para viver em Democracia”. Montesquieu alertou para os inconvenientes de “se precipitar o uso do sufrágio universal”. Como as comemorações dos 100 anos da República me ensinaram, Afonso Costa decepcionou a História com a sua avareza quanto ao reconhecimento do direito de voto às mulheres, pela pouco democrática e muito republicana razão de que a maioria das mulheres portuguesas não votaria na República.

E a Democracia? Esta é um regime! E o Mundo é regido por governos e não por regimes. E os governos, constituídos por governantes, obviamente, têm relações uns com os outros, em nome dos seus Estados. Não são os regimes que se relacionam, importam e exportam, etc. A natureza das relações entre países é o mais inexorável ambiente que define a chamada “real politique”, no sentido menos digno ou mais pejorativo que a expressão traduz. E os media vão atrás disto, também. Desde ontem, o ditador, o caricato, o abjecto Kadafi voltou a ser chamado de Presidente, porque parece que as suas tropas estão a reconquistar terreno aos rebeldes!