quinta-feira, 14 de maio de 2009

Bloco central: soma de 'resultado nulo'

Bloco Central: soma de ‘resultado nulo’

Prefiro o exercício de fissão de ideias que origine novas soluções e caminhos alternativos do que a fusão de ideias distintas, redutora de diversidades e de opções. Não penso deste modo apenas no campo abstracto e no político mas penso o mesmo também sobre as empresas e projectos. A fusão de empresas reduz a concorrência e não contribui para o enriquecimento da oferta ao cliente, prejudicando-o, de um modo geral. Creio que o mesmo se passa nas coligações de projectos políticos enunciados por forças políticas distintas e apoiados por eleitorados diferentes. Gera confusão nas escolhas pelos eleitores, gera partilha de responsabilidades das quais os protagonistas alternam em querer fugir ou reivindicar, além das dificuldades resultantes de qualquer divisão de poder.

Quando a fusão de projectos de organizações políticas não assenta em capacidades e apoios políticos complementares que permitam o alcance de objectivos de maior dimensão ou dificuldade, neste caso, a fusão aumenta as eventuais insuficiências que as organizações separadamente já possuíam. Juntar vulnerabilidades e incapacidades é criar um desastre conceptual e orgânico.

Parece-nos, pois, que o exercício de coligações passa por uma identificação de capacidades e apoios distintivos que aumentassem recursos de actuação política e não o seu contrário. Ora, tanto nos pontos de vista expressos pelo PS como pelo PSD, os seus projectos, para além das diferenças e semelhanças que sempre existem, por maiores ou menores que sejam, são enunciados numa estratégia de afrontamento e repúdio de contactos, que torna impossível a constituição de uma plataforma política comum de governo do país.

Muitas das medidas adoptadas por este governo do PS são portadoras de progresso político e cívico que nenhum dos partidos à sua direita subscreveria. E à sua esquerda, a postura é de mera contestação, sem se quererem comprometer nas responsabilidades públicas limitadas à sua expressão eleitoral. Preferem esperar… dizem. Como é também evidente, as dificuldades da crise que se vive no Mundo e em Portugal levam muita gente a pensar na enorme base social de apoio constituída pelo PS e pelo PSD, suficiente para apoiar todas as políticas, por mais difíceis. Todavia, não se sabe é em que políticas os dois partidos acordariam.

Dando por aceite que só antes das eleições e nunca depois delas é possível estabelecer um projecto de governo sério e que, a este respeito, os dados já estão lançados, temos:
- a estratégia é de confronto sem viabilidade de conversas, quanto mais entendimentos com o PSD, o que é muito positivo na opinião de muitos;
- ambos os partidos querem, naturalmente, ganhar mas, como para ganhar um perde o outro, a soma desta luta política entre PS e PSD pode ser de ‘resultado nulo’ para o país, no caso de não haver maioria absoluta de nenhum partido, o que preocupa muitas opiniões diversas, desde Jorge Sampaio a Cavaco Silva;
- sendo certo que as lideranças do PSD se podem alterar no caso de perda das eleições, colocando novas interrogações sobre acordos de efeito parlamentar;
- estamos perante uma situação na qual a política partidária não dá grande espaço à política do país;
- e como já vamos no XVII governo constitucional e alguns ministérios com perto de 30 ministros desde O 25 de Abril, dou razão a quem pensar que, na conjuntura política actual, só a maioria absoluta do PS garante estabilidade governativa.

Manuel Pedroso Marques

2 comentários:

  1. Meu caro

    Será que o ojetivo é fortalecer o país ou fortalecer o partido?

    Parabéns pelo Blog!

    Carlos Cristo

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  2. Caro PMarques, o B. Central tem estado presente em todos os governos liderados ora pelo PSD ora pelo PS, naquilo que é essencial: a distribuição do Poder e subsequentes sinecuras financeiras pelos "gestores" do (ou onde o Estado tem participação relevante) SEE. Os verdadeiros boys/girls do PS/PSD têm uma aliança tácita para se manterem sempre à tona e na liderança de importantes sectores económico-sociais mesmo quando há mudança no Governo do País. Essa é também uma razão de descrédito do Povo nos Políticos em geral,porque não é aceitável que "gestores" (ou rapinadores de riqueza produzida?) recebam, das Empresas em tempo de crise e p.e, aponto duas: na PT s/exercício de 2008 em média 1,5 milhões de euros entre salários e prémios de gestão e mantenham congelados, desde 2004, os salários dos trabalhadores que ganhem cerca de 3 mil euros mensais- Tutela MOPTC; Na EDP é vergonhoso que o PCA (foi aumentado em cerca de 150%!de 2007 p/2008) - tivesse recebido 1 milhão e cerca disso os restantes 6 colegas da sua Administração - Tutela MEI). E todos sabemos que pagamos comunicações em Portugal mais caras que no resto da Europa. E quanto a electricidade é só + 25% que os espanhóis! E quanto ganham os Gestores espanhóis? Em geral menos que estes "artistas". E de quem é a responsabilidade primeira? Dos accionistas de referência onde o Estado pela mão do Governo tem participação significativa... Estão ou não conjugados "num bloco central de interesses" Então para quê um governo de Bloco Central? Provavelmente para sanear uns boys/girls do PS com menos protagonismo político para lá meter outros do PSD como se viu no último "centralão"... ML

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