terça-feira, 16 de junho de 2009

TGV: é ou não estratégico?



Quando Sun Tzu disse há cerca de 2500 anos que a Estratégia tinha de ser feita de acordo com os ‘deuses e as terras’, esta era a maneira que ele tinha de dizer que as estratégias têm de ter em conta o ‘tempo e o espaço’. Com os tempos mudam as vontades mas a geografia, o terreno sobre o qual a Estratégia elege opções e decisões é imutável. Os factores físicos são oportunidades ou condicionantes. Facilitam ou dificultam as opções, ou seja, a sua concretização com o menor custo.

Não revelo nenhum segredo se disser que Portugal é um país periférico em relação à Europa… Afasto a argumentação de que o país se encontra no âmago de uma centralidade mais vasta, compreendendo a América Latina, África e a tal porta de entrada do Atlântico, esquecendo quem acha que Lisboa não tem de ter porto de mar… e quem ignora a concorrência doutros portos europeus, onde os cidadãos gostam de ver guindastes, navios, contentores, docas, barcos de recreio, bares, restaurantes etc… E afasto porque mais de 80% do nosso comércio se faz com a Europa, o que não significa que tal situação não signifique um constrangimento estratégico, a contrariar com a abertura das nossas exportações a outros continentes. Razão porque aplaudi a publicidade do Presidente Chaves a atirar com o Magalhães ao chão!...

A distância periférica resultante da nossa localização geográfica constitui uma vulnerabilidade estratégica que só pode ser compensada com transportes mais rápidos, mais económicos e ecologicamente sustentados. Não consigo imaginar como se pode defender uma opção estratégica diferente. Como se pode aceitar que o país contíguo faça um TGV até Badajós e nós não o queiramos fazer de Badajós a Lisboa. Peço desculpa da minha “arrogância teórica” mas quem acha que Portugal, os nossos portos, claro, não têm de estar ligados por bitola europeia de caminho de ferro ao centro da Europa… não está com os deuses de Sun Tzu. Os tempos são de TGV. O modo é a velocidade, pensaria hoje quem pensou estrategicamente no tempo em que só havia carroças.

Também se fala na oportunidade desta decisão, tomada em momento de crise e com elevado endividamento público. O que é estratégico tem necessariamente relação com o que é essencial ou importante, com o meio exterior e com o futuro. O TGV é uma infra--estrutura com estas três componentes. É portanto um investimento estratégico. Adiá-lo, não o fazer, é não cumprir, é falhar no essencial, é comprometer o futuro e acentuar uma das nossas vulnerabilidades estratégicas: a situação periférica. Na lógica iterativa que caracteriza o pensamento estratégico, as capacidades para a realização dos objectivos têm de ser adquiridas, dentro de um planeamento que confere oportunidade ideal à execução dos objectivos mas a opção do seu abandono é a derrota, a desistência.

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